quarta-feira, 4 de junho de 2014

Violência psicológica e simbólica nas prisões

     Como é que é o quotidiano numa prisão? Como se processa a interacção entre prisioneiros, guardas, familiares dos prisioneiros e os directores? Quais é que são as regras e as sanções no caso do seu incumprimento e quais as privações? É verdade que os indivíduos podem "recuperar-se" numa prisão?  Foi com base neste leque de dúvidas que fui assistir a um debate, na Casa da Achada em Lisboa, no sábado. 
    Afinal as respostas estão tão próximas de nós e mesmos assim nós não as queremos encarar e envolvermo-nos emocionalmente com elas. Nas palavras do professor António Pedro Dores, " O problema das prisões é a produção social de desrespeito, da maldade e da mentira.". Isto significa, que tudo está errado naquela caixa: os indivíduos não se recuperam psicologicamente e emocionalmente e o problema que está por detrás do crime que cometeram não é resolvido e erradicado. Tudo se mantém como anteriormente, ou seja, os fenómenos da violência doméstica, pedofilia, homicídio, tráfico mantêm-se no seio da sociedade e os agressores, violadores, homicidas, traficantes são altamente desrespeitados enquanto seres humanos e absorvem nas prisões ideias, concepções, reflexões totalmente erradas e descontextualizadas.   
    Um episódio relatado pela Vera Silva que memorize,i talvez porque me tenha custado a crer, foi de que em determinadas prisões é permitido que os homens prisioneiros visitem as suas companheiras que também estejam presas noutra prisão mas o contrário é proibido. O mesmo se passa com o contacto com os filhos sendo que o pai os pode ver ocasionalmente e a mãe nem nesta condição. Ora aqui está vincadíssima a desigualdade de géneros, a diminuição clara da mulher. Os episódios de violência física e psicológica que se passaram e passam em muitas prisões dão origem muitas vezes a suicídios Há quem defenda o abolicionismo ou a justiça transformativa. Se um dia me tornar activista nesta causa muito provavelmente percorrerei o caminho da justiça transformativa. 
    O objectivo desta reflexão é despertar as consciências para a gravidade deste este fenómeno. O problema começa antes do encaminhamento para um estabelecimento prisional e é nesse problema que temos que intervir colectivamente para eliminá-lo com segurança. A prisão não é de todo um sinónimo de segurança e reabilitação. Este é o segredo social que encerrado nas prisões, que todos sabemos mas não queremos confrontarmos-nos com, ocultado pelo escândalo da revelação.